Reveillón

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Naquele dia, completavam um ano e quatro meses. Não foi o melhor ano… Inúmeras brigas e discussões inúteis haviam afastado aquele casal apaixonado de outrora. A última parecia ter sido a gota d’água: A traição. Cerca de um mês antes ela havia descoberto a traição. Dias e dias de uma discussão sem fim.

– Porque? Eu não lhe dei tudo de que precisava? O que te faltou aqui? Amor? Carinho? Atenção? Sexo?
– Deixa pra lá…
– Como assim, deixa pra lá? Eu fui trocada e agora tu quer deixar pra lá?

E assim se seguiam discussões que começavam e terminavam sem nenhuma conclusão. Até que, cansado das evasivas, ele abriu o coração:

– É, realmente faltou alguma coisa sim! Compreensão e espaço! Eu sei que errei, mas foi a única forma de me fazer ouvir! Agora sim, tenho toda a atenção.
– Então era isso? Será que eu preciso dizer que não há mais nada entre nós então?
– Na verdade, acho que não… Eu te amo, e a única coisa que eu quero agora é estar novamente contigo… Prometo que…

Promessas… Era fim de ano, e essa era mais uma das promessas… Dessa vez, nada de emagrecer 5kg, estudar mais, ser mais atencioso. A promessa era não trair. Por outro lado, ela prometia prestar mais atenção nele. Mas o ato imperdoável da traição foi perdoado. Ele prometeu. Ela perdoou. Mas nada foi igual*.
Diante dos fogos de artificio, as promessas pareciam certezas. O show pirotécnico que iluminava a orla do Guaíba davam um tom quase profético aquela reconciliação. Senão profético, com certeza poético. 00h01min. Aos beijos, comemoravam o ano que viria, a reconciliação, e as promessas. 00h05min. Nos braços dele, ela se sentia já mais segura, pronta para enfrentar mais um ano. 00h07min. A felicidade dos dois parecia a melhor coisa no meio de tanta gente. Ninguém poderia se amar tanto. 00h10min. Nada mudou.


*Trecho retirado da música Disco Rock, da banda Papas da Língua.

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