Bolo

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“Oi! Nossa, como tu tá linda hoje!”. Droga, hoje não! Ela ta sempre linda… Então: “Oi. Sabe, tu fica muito bonita de moletom!”. De moletom!? Não tinha algo menos romântico pra dizer?Ah, droga, mas não pode ser romântico… E se ela só quiser ser minha amiga mesmo? Mas o jeito que ela me olha… E as brincadeiras, então? Mas vai saber…

Ah, mas na hora sai algo! E essa roupa? Camisa social, paletó, calça jeans… Mas talvez pareça um encontro. E se ela se sentir mal em um encontro comigo? Não, então tenho que trocar de roupa! Mas eu também não posso ir desarrumado. Ta, vou trocar a camisa social por uma camiseta. Exatamente! Afinal, camiseta e paletó é o novo cult; elegante, sem ser arrumadinho; simples, sem deixas de estar bonito. É isso mesmo! Uma camiseta!

Na verdade, o que importa mesmo é estar perfumado. Uma borrifada? Não, talvez ela nem sinta… Duas? Ta ficando bom, mas acho que mais uma pra ter certeza. Droga! Como eu vou tirar esse cheiro agora!? Não vai sair mais… Ah, não tem problema! Pelo menos ela vai sentir o meu perfume!

Carteira, celular, chaves de casa, chaves do carro, elogio… Putz, eu não consegui pensar em nada ainda! Falo dos olhos, do cabelo, do perfume? Não, muito poético. Ja sei! Vou falar das curvas! Ah, óbvio que não, ela vai achar que sou um tarado… A roupa? Não, definitivamente, eu não sei nada de roupas. Vou falar besteira. Que tal… O telefone! Deve ser ela!

É, era ela…

Reveillón

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Naquele dia, completavam um ano e quatro meses. Não foi o melhor ano… Inúmeras brigas e discussões inúteis haviam afastado aquele casal apaixonado de outrora. A última parecia ter sido a gota d’água: A traição. Cerca de um mês antes ela havia descoberto a traição. Dias e dias de uma discussão sem fim.

– Porque? Eu não lhe dei tudo de que precisava? O que te faltou aqui? Amor? Carinho? Atenção? Sexo?
– Deixa pra lá…
– Como assim, deixa pra lá? Eu fui trocada e agora tu quer deixar pra lá?

E assim se seguiam discussões que começavam e terminavam sem nenhuma conclusão. Até que, cansado das evasivas, ele abriu o coração:

– É, realmente faltou alguma coisa sim! Compreensão e espaço! Eu sei que errei, mas foi a única forma de me fazer ouvir! Agora sim, tenho toda a atenção.
– Então era isso? Será que eu preciso dizer que não há mais nada entre nós então?
– Na verdade, acho que não… Eu te amo, e a única coisa que eu quero agora é estar novamente contigo… Prometo que…

Promessas… Era fim de ano, e essa era mais uma das promessas… Dessa vez, nada de emagrecer 5kg, estudar mais, ser mais atencioso. A promessa era não trair. Por outro lado, ela prometia prestar mais atenção nele. Mas o ato imperdoável da traição foi perdoado. Ele prometeu. Ela perdoou. Mas nada foi igual*.
Diante dos fogos de artificio, as promessas pareciam certezas. O show pirotécnico que iluminava a orla do Guaíba davam um tom quase profético aquela reconciliação. Senão profético, com certeza poético. 00h01min. Aos beijos, comemoravam o ano que viria, a reconciliação, e as promessas. 00h05min. Nos braços dele, ela se sentia já mais segura, pronta para enfrentar mais um ano. 00h07min. A felicidade dos dois parecia a melhor coisa no meio de tanta gente. Ninguém poderia se amar tanto. 00h10min. Nada mudou.


*Trecho retirado da música Disco Rock, da banda Papas da Língua.

A noite

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Naquela noite o frio estava confortavel. O unico calor necessario era o que aquecia os nossos corações. O céu era com certeza o mais estrelado do ano, e até a lua parecia ter se aproximado para nos ver. A mão macia no meu rosto não deixava duvidas de que naquele 17 de julho o amor havia renascido. Em meu ouvido uma música soava: Nesta noite o amor chegou. Chegou pra ficar… Por alguns segundos pensei ser um sonho, mas os lábios que se aproximavam dos meus não me permitiam duvidar. O hálito quente vinha do único lugar que poderia fornecer calor naquela noite gelada: o coração. O resto não mais existia. A rua estava deserta. O olhar vigilante da lua não nos encabulava mais. O som do vento nas folhas era ainda mais acolhedor. Toda a natureza conspirava a favor. Então, quem seria contra? O amor era tanto que a falta de pudor sequer passou pela minha mente. O que eu queria era aquele beijo doce e diferente de todos os sabores do mundo. O que eu queria era aquele abraço que não carregava culpa. O que eu queria era o cheiro quase infantil e apaixonante. Além de tudo, eu queria a voz dela sussurrando ao meu ouvido uma velha música… Nós dois cansados de esperar para se encontrar… Nesta noite o amor chegou. Chegou pra ficar…
E foi infinita, enquanto durou, aquela noite inexplicável. Infinita, porque guardou, dentro de cada um, um pedacinho do outro. Infinita, porque ali o amor chegou. Ali, o amor chegou pra ficar…


Trechos em italico retirados da canção Nesta noite o amor chegou, do filme Rei Leão

Pequeno raio de sol

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De onde vem tanta alegria?
Está estampado em teu rosto
Em teu sorriso e teu olhar
Esse brilho de magia

De onde vens, menina?
Que lugar abriga tão meiga criatura
Que possa com um simples sorriso
Fazer o mundo inteiro brilhar?

Oh, não, ainda não estou louco
Teus olhos não mentem
De propósito, deixam escapar
Aquilo que os outros não sentem

Oh, não, ainda não estou louco
Existe uma aura de pureza que te envolve
Eu a vejo com esses meus olhos tristes
Refletidos no brilho intenso do teu olhar

Oh, não, acho que estás me deixando louco…

 

O que nos trouxe até aqui

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“Afinal de contas, o que nos trouxe até aqui? Medo ou coragem? Talvez nenhum dos dois.” Já dizia Humberto Gessinger na letra de Armas Quimicas e Poemas. Em meio a um problema enorme sempre pensamos “Ah, se aquilo não tivesse acontecido”, mas ninguém percebe que as vezes o acontecimento que desencadeou todos os problemas também trouxe coisas boas e mudanças importantes. Lembro-me de odiar o dia fatidico em que eu encontrei aquela guria no saguão do colégio. Ela nem me deu bola, mas o destino fez com que nos aproximassemos. Foi a segunda guria de quem eu realmente gostei, e não preciso mentir quanto a isso, sofrí muito. Há quem dirá que não valeu a pena e que tudo que passei por ela foi só um atraso de vida, mas foi também por ela que aprendí a escrever. É, os primeiros poemas da minha vida a tiveram como inspiração. O nascimento desse blog se deu, por consequencia, pela necessidade de publicar os poemas que escrevia pensando nela. Por ela aprendí a tocar violão, fui pro CLJ. Será que deveria realmente odiar aquele dia? Mas costumamos perceber sempre o lado ruim das coisas, que normalmente é infinitamente menor que o lado bom.
Medo ou coragem? As vezes não basta termos coragem, pois o medo alheio também é um obstáculo. Já tive muitos medos, mas o medo que realmente mudou a minha vida, ou melhor, não permitiu que ela mudasse, não foi meu. Enquanto eu tive a coragem necessária pra chegar até ali, e pra seguir em frente, a outra parte tinha medo, e só o medo.
O que posso responder? Talvez, nenhum dos dois…